13 de jul. de 2008

PARA QUE O CINEMA


daniel marcolino


A existência de uma coisa apontada por uma convenção lingüística, isto é, um nome, torna-a presente para uma comunidade provida de linguagem como torna existente para uma criança o objeto que lhe salta à frente. Eis, pois, uma primeira e imediata e involuntária função da linguagem: fazer existir para ‘nós’. Existir como que, de repente, percebe e diz “ei-lo”. Constatamos, assim, o algo, a existência, por assim dizer, digo melhor, o existir.
Assim, igualamos, como fruto de nossa mais tenra vaidade intelectual, e inutilmente, talvez, o cinema a qualquer outra...coisa. O lucro que tiramos daí é a consciência de sua (nossa) existência. Mas...para quê? Para que, uma vez nomeado o cinema, atribuamos-lhe (ou é ele que se autonomiza incorporando funções?) funções utilizadas para o exercício de um prazer catalisador de poder, capaz de sublimar, por exemplo, nossas mais antagônicas fraquezas, como não voar, escutar, chorar etc. ou só como prazer estético mesmo (à Kant)?
Aliás, como defender o cinema em sua constituição ou função social? A quem serve o cinema? Esta última pergunta, quero deixar claro, não pode ser feita àquele filme ou a este. Deve ser feita ao Cinema. Assim como o teatro o cinema foi adorado ou amado em sua constituição, do jeito ‘que ele é’, podemos dizer. Confundindo-se com o teatro, às vezes, ressaltando a palavra ou a imagem (pois no teatro há também a valoralização do gesto, do cenário etc.) O cinema foi colocando cada tijolo em seu devido lugar. E outras casinhas logo foram aparecendo, indicando que há vários cinemas compondo um grande vilarejo, talvez uma grande metrópole, espelhando sua pluralidade como ontologia, onde todos são como que uma família. Isso, uma grande família, como todas, onde ali constam os ícones criados pelas mais diversas fontes de nossa formação física e mental. Estou falando dos elementos de sua composição: a prostituta, o veado, o paizão, o poeta, o acadêmico, o ignorante, o analfabeto.
Que viva, pois, o cinema para contar ou ‘apenas’ exibir essa história! Ainda que isso seja inútil dizer, assim, ‘viva’ (ou ‘‘Salve o Cinema’?!’. Ele sempre vai estar aí e não precisa que digamos vivas. Que vivamos nós, pois, para podermos comer a prostituta e o veado com a grande desculpa de ser tudo isso arte e assim não enlouquecermos nossos doces lares, brindando com os resquícios do prazer pro-i-bi-do na beirada dos copos).
Fonte da imagem: microsoft.

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