27 de mai. de 2008

Santo Agostinho



A Necessidade da Compaixão






Arrebatavam-me os espectáculos teatrais, cheios de imagens das minhas misérias e de alimento próprio para o fogo das minhas paixões. Mas por que quer o homem condoer-se, quando presencia cenas dolorosas e trágicas, se de modo algum deseja suportá-las? Todavia, o espectador anseia por sentir esse sofrimento que, afinal, para ele constitui um prazer. Que é isto senão rematada loucura? Com efeito, tanto mais cada um se comove com tais cenas quanto menos curado se acha de tais afectos (deletérios). Mas ao sofrimento próprio chamamos ordinariamente desgraça, e à comparticipação das dores alheias, compaixão. Que compaixão é essa em assuntos fictícios e cénicos, se não induz o espectador a prestar auxílio, mas somente o convida à angústia e a comprazer o dramaturgo na proporção da dor que experimenta? E se aquelas tragédias humanas, antigas ou fingidas, se representam de modo a não excitarem a compaixão, e espectador retira-se enfastiado e criticando. Pelo contrário, se se comove, permanece atento e chora de satisfação. Amamos, portanto, as lágrimas e as dores. Mas todo o homem deseja o gozo. Ora, ainda que a ninguém apraz ser desgraçado, apraz-nos contudo a ser compadecidos. Não gostaremos nós dessas emoções dolorosas pelo único motivo de que a compaixão é companheira inseparável da dor? A amizade é a fonte destas simpatias.
Santo Agostinho. In Confissões. Col. Os Pensadores. São Paulo: ed. Abril.
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25 de mai. de 2008

Mitos gregos

Zeus, deus dos deuses gregos









'Incrompreensão' é algo comum nos nossos dias e, aliás, o foi em qualquer tempo. Contudo, é hoje em dia que as teorias proliferam e suas medidas são feitas conforme o gosto do freguês. Assim, amputa-se ou são estendidos vestígios que freqüentemente são deslocados de seus contextos. Isso nos faz lembrar uma história mítica grega, sobre a personagem Damastes, que adequava o tamanho dos visitantes a sua cama, do mesmo modo que procedemos ao ajustar a nossa teoria àquilo sobre o qual estudamos, cometendo, como Damastes (ou Procusto, estirador, em grego) crimes hediondos. Explicamos melhor logo abaixo. Por Júpiter, não desista, continue lendo, que o mito é interessante.

Procusto

Procusto (ou Procusta), que significa "estirador", foi o apelido dado a Damastes, personagem da mitologia grega, que vivia perto da estrada de Eleusis. Costumava atrair viajantes solitários para a sua pousada, oferecendo-lhe abrigo para passar a noite. Acreditava-se que ele tinha dois leitos de ferro, um menor que o outro, que ele escolhia dependendo da altura do visitante.
Depois que a vítima adormecia, Procusto a dominava e tratava de adequar o corpo às medidas exatas do leito: se ele era alto e os pés sobressaíam da borda, ele os amputava com um machado; se era baixo e tinha espaço de folga, ele esticava os membros com cordas e roldanas.
Originalmente chamado de Damastes, ele adquiriu o nome de Procusto ("o Estirador") pelo estranho castigo que dava a suas vítimas.


Teseu terminou com a obsessão homicida de Procusto, obrigando-o a deitar no seu próprio leito, atravessado, e cortou todas as partes do corpo de Procusto que sobraram fora da cama. Esse fim teve o Procusto grego e quanto aos nossos costumes 'procústicos' de espichar daqui e dali, amputar isso e aquilo? Será que como Teseu aprenderemos a cada vez menos distorcer comentários e essencialidades? Essa novela nós a construíremos.

(Fonte Wikipédia, a Enciclopédia livre. Alterada e enxertada por daniel marcolino).

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Projeto Cinema na Escola

Projeto Cinema na Escola sob a Ótica da Filosofia

*OBJETIVO

-Oferecer formação de teoria em cinema calcada em uma visão multidisciplinar a partir de projeção selecionada de filmes de arte, desenhos animados, documentários, seguidos de estudos, orientação e pesquisa rigorosa para apreciação e sistematização de material audiovisual em discussões temático-fílmicas com estudantes e comunidade, inclusive com produção de textos e com possibilidade da realização pelos próprios participantes de mini-festival.

*NÚMERO DE PARTICIPANTES

-Até 20 (vinte).

*A seleção dos candidatos à participação no projeto se dará no dia 03 de Junho (terça-feira) a partir das 13h15, na sala de vídeo da E.E. Rui Bloem;

*CRITÉRIO DE SELEÇÃO: será divulgado na reunião do dia 3 de Junho indicada acima;

*PÚBLICO ALVO

-Alunos dos períodos da manhã e da noite da Rui Bloem e comunidade;

*REALIZAÇÃO

-E.E. Rui Bloem, Grêmio da E.E. Rui Bloem

*DIAS DE REALIZAÇÃO

-O projeto será realizado quinzenalmente, às terças-feiras, das 13h às 15h.

*PROFESSORES RESPONSÁVEIS

-Daniel Marcolino (Filosofia, manhã)
-Marisa (Psicologia)

O Homem do Absurdo





Para entrar no céu todo ser humano, brasileiro ou não, deve ler pelo menos dois livros de Albert Camus (Argélia, África). Indico O Estrangeiro e O Mito de Sísifo, que nos satisfazem duplamente, tanto no que diz respeito ao interesse literário, quanto filosófico, aliás, um terceiro aspecto (quarto também etc.) que é o estético. Seus textos são de matar a gente por dentro, deixando-nos à deriva com os personagens, sua crueza, honestidade. Uma obrigação.






No livro O Mito de Sísifo Albert Camus defende que a questão central da filosofia é que o ser humano tem que decidir se deve continuar vivo ou abreviar a vida, cometendo suicídio. Com isso alguns diriam que ele radicaliza, pois só a Deus caberia tirar aquilo que ele concedeu. Diriam ainda que se trata de pessimismo. Mas, vamos com calma. Para ele somos sempre estrangeiros sem pátria e diz: "(...) não existe pátria para quem desespera e, quanto a mim, sei que o mar me precede e me segue, e minha loucura está sempre pronta. Aqueles que se amam e são separados podem viver sua dor, mas isso não é desespero: eles sabem que o amor existe. Eis porque sofro, de olhos secos, este exílio. Espero ainda. Um dia chega, enfim." Contudo, aquele que decide continuar vivo é porque estaria mais ou menos consciente da responsabilidade de viver e não transferiria a uma entidade exterior. Sendo assim, daquele que se mata poderíamos pensar que amava tanto a vida que não admitia vivê-la com as limitações de suas condições sociais ou históricas. É isso. Por enquanto ficamos com essas palavras sobre nosso admirado escritor argelino.
(A citação consta na Revista: Ciência & Vida. Filosofia. AnoII, nº21. São Paulo; ed. escala, acrescido de comentários de Daniel Marcolino)


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23 de mai. de 2008

Resumo de Aulas (3)

Entramos no tema Ética, começando a falar de Senso Moral e de Consciência Moral. O próximo assunto será Juízo de fato e Juízo de Valor. Você saberia dizer do que tratam? Qual a diferença entre tais juízos?

Resumo de Aulas (2)

Epicuro, pensador grego, surge num momento em que a Grécia Antiga sucumbia diante de um dominador estrangeiro e, com isso, seus filósofos deixavam os grandes temas e investigações para voltar-se para dentro de si, i.e., para penasr a questão da felicidade. Epicuro foi um deles.

Segundo Epicuro o remédio para as aflições e tormentos da alma é o phármakon, enquanto curativo, porque discurso-razão. Assim,

1-Não há o que temer quanto aos deuses;

2-Nada há nada a temer quanto à morte;

3-Pode-se alcançar a felicidade;

4-Pode-se suportar a dor;


“No epicurismo o conhecimento deixa de ser preparação para a atividade política (como fora em Platão), passando a ocupar do aprimoramento do interior do homem” (E. Joyau e G. Ribbeck. In Col.Os Pensadores, VIII) .

Pouco tempo antes de morrer, Epicuro escrevera a um discípulos, anunciando estar prestes a morrer. É o que se lê neste fragmento da Carta a Idomeneu:

“Eu te escrevo neste dia feliz da minha vida em que me sinto próximo da morte. O mal prossegue seu curso na bexiga e no estômago e não perde nada de rigor. Mas, contra tudo isso, tenho alegria em meu coração, ao recordar minhas conversas contigo. Cuida dos filhos de Metrodoro: creio que posso contar com isso pela antiga devoção à minha pessoa e à filosofia” (P. Nizan, p.11. In: Ética (Org. Adauto Novaes, p.62)).

Epicuro permanece imperturbável até o fim porque até o fim porque justamente pela certeza de que a morte não lhe diz respeito, pois ao chegar, não o encontra: seu corpo e sua alma feitos de átomos retornaram ao jogo dos córpulos que se movem no vazio, eternamente. (P. Nizan, p.11. In: Ética (Org. Adauto Novaes, p.62)).

“Todo desejo incômodo e inquieto se dissolve no amor da verdadeira filosofia” (Epicuro. In: Col. Os Pensadores, p. 13)
*
“Nunca se protele o filosofar quando se é jovem nem canse o fazê-lo quando se é velho, pois que ninguém é jamais pouco maduro nem demasiado maduro para conquistar a saúde da alma. E quem diz que a hora de filosofar ainda não chegou ou já passou assemelha-se ao que diz que ainda não chegou ou já passou a hora de ser feliz” (Epicuro. In: Col. Os Pensadores, 1988, p. 13)

Estoicismo= “O estoicismo grego propõe uma imagem do universo segundo a qual tudo o que é corpóreo é semelhante a um ser vivo, no qual existiria um sopro vital (pneuma), cuja tensão explicaria a junção e interdependência das partes” (E. Joyau e G. Ribbeck. In Col.Os Pensadores, IX)

Livro de Filosofia

O livro de filosofia adotado na escola Rui Bloem é o "Filosofia no Ensino Médio", da Marilena Chaui, Editora Ática, que está sendo vendido na escola por um funcionário da própria editora por R$25,00. Pedimos desculpa, mas o rapaz que vende os livros entrou em contato e estabeleceu nova data para a venda dos livros de filosofia: dia 05/06 (quinta-feira), das 11h00 às 12h00, e das 18h00 às 19h30.
A adoção do livro se deu primeiramente por sugestão do professor da noite, Adilson, que é orientando da professora Marilena Chaui, que doou 15 volumes para a escola; amadurecemos a idéia e resolvemos, Daniel Soares, Iroã, Daniel Marcolino e o Adilson, por fim, adotá-lo.

22 de mai. de 2008

Resumo de aulas (1)

Tentei no primeiro bimestre estabelecer uma atmosfera para entendermos como a questão da linguagem se coloca frente as outras que viríamos a estudar como a política, ética etc. Assim, defendemos a tese de que apenas com sujeitos de linguagem – e aqui há de ser dito, sujeitos de uma linguagem bem desenvolvida, i.e., sujeitos que lidam satisfatoriamente com as sutilezas da linguagem – poderemos pensar em conduta ética. Pois sem um sujeito que possa escolher ou visualizar se deseja ir para a esquerda ou para a direita por conta própria não há ética.
Por isso, tratamos de ressaltar a importância de tal tema a partir de seu aparecimento no Antigo Testamento hebraico e na Odisséia, de Homero.

No Antigo Testamento lembramos a aquisição de linguagem por meio da desobediência, pois é testando os limites de uma lei que se adquire sua importância, mas também a necessidade de atualizá-la. Com isso, começa a história da humanidade, segundo a avaliação de Eric Fromm em O Espírito da Liberdade. A seguir, o Antigo Testamento dará provas de ser um texto libertador, na medida em que na fase pós-Dilúvio Deus estabelecerá com a humanidade (representada por Abraão) uma nova aliança. Compartilha com ela suas decisões, já que desde a desobediência originária do Homem ele ‘se tornou como um de nós, sabendo do bem e do mal” (Gêneses I). Assim, Abraão lembrará Deus que Ele não poderá cometer uma injustiça queimando uma cidade onde há justos. Deus cofia sua barba perfeita e concorda com Abraão. Eis a obra maior de Deus, o Homem, que aprendeu a utilizar-se da linguagem para decidir que rumos tomar, por meio de critérios que considera certos.

Na Odisséia, Prometeu rouba o fogo dos deuses e o entrega à humanidade, que a partir de então, como na desobediência de Adão, passa a saber do bem e do mal. A linguagem na Odisséia ganha requintes notáveis. Há várias passagens em que a assembléia, modo comum de decisões entre os gregos, é um recurso à mão. Quando os deuses pensam ter detectado uma injustiça, reúnem-se para decidir o que fazer. “Deliberemos juntos acerca de Odisseu encontrar a rota de volta para casa. A vontade de Posidon não pode sobrepor-se à de todos os deuses (...)”. Eis o exemplo de aplicabilidade da democracia na cultura grega. Assim, pensamos ter ressaltado como a escuta do discurso do Outro se fazia importante para a criação de um sistema político-cultural que engendraria grandes outras criações como seria o surgimento da própria filosofia, que imprescinde do diálogo como método de fabricação e desvelamento da verdade.

21 de mai. de 2008

Sugestão de filmes

Gostaria de indicar um filme genial, pancada mesmo, que é o Janela da Alma, um documentário brasileiro; um filme muito sensível e investigativo. Seguem abaixo algumas informações sobre ele que eu tirei do 'site' da livraria cultura.

Título original: JANELA DA ALMA; Ano de produção: 2002; País de Produção: Brasil; Gênero: DOCUMENTARIO; Duração: 73 minutos Sistema de Cor: Colorido; Idioma Original: PORTUGUES - DOLBY DIGITAL 2.0Legenda: FRANCES INGLES

'Janela da alma' apresenta dezenove pessoas com diferentes graus de deficiência visual - da discreta à cegueira total - que narram como se vêem, como vêem os outros e como percebem o mundo. Celebridades como o escritor José Saramago, o músico Hermeto Paschoal, o diretor Wim Wenders, o fotógrafo cego esloveno Evgen Bavcar e o neurologista Oliver Sachs fazem revelações pessoais e inesperadas sobre vários aspectos relativos à visão - o funcionamento fisiológico do olho, o uso de óculos e suas implicações sobre a personalidade, o significado de ver ou não ver em um mundo saturado de imagens e também a importância das emoções como elemento transformador da realidade. 'Janela da alma' resulta em uma reflexão emocionada sobre o ato de 'ver' - ou não ver - o mundo.



Nossa intenção é toda semana sugerir neste espaço, pelo menos, dois filmes...Já sugerimos O Anjo Azul, filme adaptado de livro escrito pelo irmão de Thomas Mann, Heinrich Mann, que trata genialmente da história de um professor que conhece uma mulher de cabaré e a partir daí vê sua vida tomar uma guinada. Com compreensão de questões sociais e de relacionamentos seguimos vendo o filme com a condução de um diretor que já apresenta maturidade quanto a linguagem do cinema. Há no filme, por exemplo, a alternância do uso do som de forma 'naturalista', quando o filme se divide entre o camarim da principal atração do cabaré, que é o "Anjo Azul' (Marlene Dietrich), e o palco, local em que se dão as apresentações musicais e de dança. Quando alguém sai de um ambiente e entra no outro há uma reprodução, digamos, fiel do ambiente. Isso na história do cinema era uma quase novidade.
Também sugerimos M., O Vampiro...porque trata de questões do 'destino', como somos lançados na teia do destino sem que percebamos, crendo, inocentemente que somos nós a decidir as coisas da vida. Um momento que nos tocamos quanto a essa questão é quando somos apanhados de calça curta, isto é, quando somo punidos com a publicização do delito e aí nos desculpamos dizendo que não tínhamos a intenção etc. Assim, acontece com o Vampiro de Düssedorlf, um filme espetacular.


1)O Anjo Azul (Blaue Engel, Der, Alemanha, 1930) Diretor: Josef von Sternberg Elenco: Emil Jannings e Marlene DietrichDuração: 99 min. Tipo: Longa-metragem / P&B.
SINOPSE: Austero professor tem sua vida mudada quando conhece uma cantora de cabaré chamada Lola Lola



2)M., O Vampiro de Düsseldorf, de Fritz Lang Duração: 117 min / P&B (Alemanha, 1931)
Inspirado em fatos reais, ''M'' narra a trajetória de um assassino sádico, que mata meninas, e ficou conhecido nos anais policiais como 'o vampiro de Dusseldorf '. Exemplo clássico do cinema expressionista, rodado praticamente todo em estúdio - onde era possível valorizar o contraste entre o claro e o escuro (o filme é em preto-e-branco). Interpretação perturbadora de Peter Lorre, com aquela cara de aparência tranqüila, de vítima.
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Sugestão de textos literários




A exemplo do espaço para sugestões de filmes, aqui sugerirei textos literários que povoam terrivelmente minha cabeça grande. Começarei com Caio Fernando Abreu esta semana.


Caio Fernando Abreu nasceu no Rio Grande do Sul em 1948. Ingressou em 1967 no curso de Letras da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, que abandonou para dedicar-se ao jornalismo. Como jornalista, trabalhou em alguns dos principais jornais e revistas do Brasil, como a Veja, Manchete, Correio do Povo, Folha de S. Paulo e O Estado de S. Paulo, em que publicou crônicas entre 1986 e 1995. Vivendo entre Porto Alegre, Rio de Janeiro e São Paulo, com alguns períodos no exterior, o escritor recebeu vários prêmios, entre eles o Jabuti pelo romance Triângulo das Águas. Seu livro de contos Morangos Mofados (1982) marcou uma geração ao ser lançado na coleção Cantadas Literárias, da Editora Brasiliense, tornando-se um dos maiores sucessos editoriais da década de 1980. Vários de seus livros estão traduzidos na Alemanha, França, Inglaterra, Itália e Holanda. Dono de uma escrita marcada pelo tom confessional, construiu sua obra através de personagens urbanos, inquietos existencialmente e fez da literatura um porto onde atracou com contos, romances, dramaturgia, poesia e jornalismo. Com uma prosa ao mesmo tempo delicada e agressiva, e ainda extremamente atual, muitas vezes deixa-se transbordar de emoção com a lembrança de uma amizade, de uma música ou poema, de um lugar. Na tentativa de elaborar ou encontrar suas respostas, dá-las ou mesmo exigi-las de quem o lê, experimentou de tudo: drogas, viagens, relacionamentos, tudo em troca de um viver ao mesmo tempo intenso e excessivo. Por seus personagens, ora alienados, ora confusos, ora lúcidos, percebe-se toda a topografia emocional de uma geração. Em suas crônicas, publicadas com maior regularidade nos últimos anos de vida, a morte e a descoberta das coisas simples da vida são assuntos recorrentes. Em setembro de 1994, declarou publicamente em sua crônica semanal que era portador do vírus HIV. Morreu aos 47 anos de complicações causadas pelo vírus.


Texto 1


Que coisas são essas que me dizes sem dizer, escondidas atrás do que realmente quer dizer?Tenho me confundido na tentativa de te decifrar, todos os dias. Mas confuso, perdido, sozinho, minha única certeza é que de cada vez aumenta ainda mais minha necessidade de ti. Torna-se desesperada, urgente. Eu já não sei o que faço. Não sinto nenhuma alegria além de ti.Como pude cair assim nesse fundo poço? Quando foi que me desequilibrei? Não quero me afogar: Quero beber tua água. Não te negues, minha sede é clara.( Extraído do livro Caio Fernando Abreu- Caio 3D, O Essencial da Década de 1980, p.186)


Texto 2:

Alento


Quando nada mais houver,eu me erguerei cantando,saudando a vidacom meu corpo de cavalo jovem.E numa louca corridaentregarei meu ser ao ser do Tempoe a minha voz à doce voz do vento.
Despojado do que já não hásolto no vazio do que ainda não veio,minha boca cantarácantos de alívio pelo que se foi,cantos de espera pelo que há de vir.( Extraído do livro Caio Fernando Abreu- Caio 3D, O Essencial da Década de 1970, p.144)


Texto 3

Dama da Noite

Como se eu estivesse por fora do movimento da vida. A vida rolando por aí feito roda-gigante, com todo mundo dentro, e eu aqui parada, pateta, sentada no bar. Sem fazer nada, como se tivesse desaprendido a linguagem dos outros. A linguagem que eles usam para se comunicar quando rodam assim e assim por diante nessa roda-gigante. Você tem um passe para a roda-gigante, uma senha, um código, sei lá. Você fala qualquer coisa tipo bá, por exemplo, então o cara deixa você entrar, sentar e rodar junto com os outros. Mas eu fico sempre do lado de fora. Aqui parada, sem saber a palavra certa, sem conseguir adivinhar. Olhando de fora, a cara cheia, louca de vontade de estar lá, rodando junto com eles nessa roda idiota - tá me entendendo, garotão?Nada, você não entende nada. Dama da noite. todos me chamam e nem sabem que durmo o dia inteiro. Não suporto: luz, também nunca tenho nada pra fazer - o quê? Umas rendas aí. É, macetes. Não dou detalhe, adianta insistir. Mutreta, trambique, muamba. Já falei: não adianta insistir, boy . Aprendi que, se eu der detalhe, você vai sacar que tenho grana e se eu tenho grana você vai querer foder comigo só porque eu tenho grana. E acontece que eu ainda sou babaca, pateta e ridícula o suficiente para estar procurando O verdadeiro amor. Pára de rir, senão te jogo já este copo na cara. Pago o copo, a bebida. Pago o estrago e até o bar, se ficar a fim de quebrar tudo. Se eu tô tesuda e você anda duro e eu precisar de cacete, compro o teu, pago o teu. Quanto custa? Me diz que eu pago. Pago bebida, comida, dormida. E pago foda também, se for preciso.Pego, claro que eu pego. Pego sim, pego depois. É grande? Gosto de grande, bem grosso. Agora não. Agora quercì falar na roda. Essa roda, você não vê, garotão? Está por aí. rodando aqui mesmo. Olha em volta, cara. Bem do teu lado. Naquela mina ali, de preto, a de cabelo arrepiadinho. Tá bom, eu sei: pelo menos dois terços do bar veste preto e tem cabelo arrepiadinho, inclusive nós. Sabe que, se há uns dei anos eu pensasse em mim agora aqui sentada com você, eu não ia acreditar? Preto absorve vibração negativa, eu pensava. O contrário de branco, branco reflete. Mas acho que essa moçada tá mais a fim mesmo é de absorver, chupar até o fundo do mal - hein? Depois, até posso. Tem problema, não. Mas não é disso que estou falando agora, meu bem.Você não gosta? Ah, não me diga, garotinho. Mas se eu pago a bebida, eu digo o que eu quiser, entendeu? Eu digo meu-bem assim desse jeito, do jeito que eu bem entender. Digo e repito: meu-bem-meu-bem-meu-bem. Pego no seu queixo a hora que eu quiser também, enquanto digo e repito e redigo meu-bem-meu-bem. Queixo furadinho, hein? Já observei que homem de queixo furadinho gosta mesmo é de dar o rabo. Você já deu o seu? Pelo amor de Deus, não me venha com aquela história tipo sabe, uma noite, na casa de um pessoal em Boiçucanga, tive que dormir na mesma cama com um carinha que.Todo machinho da sua idade tem loucura por dar o rabo, meu bem. Ascendente Câncer, eu sei: cara de lua, bunda gordinha e cu aceso. Não é vergonha nenhuma: tá nos astros, boy. Ou então é veado mesmo, e tudo bem.Levanta não, te pago outra vodca, quer? Só pra deixar eu falar mais na roda. Você é muito garoto, não entende dessas coisas. Deixa a vida te lavrar a cara, antes, então a gente. Bicho, esquisito: eu ia dizer alma, sabia? Quer que eu diga? Tá bom, se você faz tanta questão, posso dizer. Será que ainda consigo, como é que era mesmo? Assim: deixa a vida te lavrar a alma, antes, então a gente conversa. Deixa você passar dos trinta, trinta e cinco, ir chegando nos quarenta e não casar e nem ter esses monstros que eles chamam de filhos, casa própria nem porra nenhuma. Acordar no meio da tarde, de ressaca, olhar sua cara arrebentada no espelho. Sozinho em casa, sozinho na cidade, sozinho no mundo. Vai doer tanto, menino. Ai como eu queria tanto agora ter uma alma portuguesa para te aconchegar ao meu seio e te poupar essas futuras dores dilaceradas. Como queria tanto saber poder te avisar: vai pelo caminho da esquerda, boy, que pelo da direita tem lobo mau e solidão medonha.A roda? Não sei se é você que escolhe, não. Olha bem pra mim - tenho cara de quem escolheu alguma coisa na vida? Quando dei por mim, todo mundo já tinha decorado a tal palavrinha-chave e tava a mil, seu lugarzinho seguro, rodando na roda. Menos eu, menos eu. Quem roda na roda fica contente. Quem não roda se fode. Que nem eu, você acha que eu pareço muito fodida? Um pouco eu sei que sim, mas fala a verdade: muito? Falso, eu tenho uns amigos, sim. Fodidos que nem eu. Prefiro não andar com eles, me fazem mal. Gente da minha idade, mesmo tipo de. Ia dizer problema, puro hábito: não tem problema. Você sabe, um saco. Que nem espelho: eu olho pra cara fodida deles e tá lá escrita escarrada a minha própria cara fodida também, igualzinha à cara deles. Alguns rodam na roda, mas rodam fodidamente. Não rodam que nem você. Você é tão inocente, tão idiotinha com essa camisinha Mr. Wonderful. Inocente porque nem sabe que é inocente. Nem eles, meus amigos fodidos, sabem que não são mais. Tem umas coisas que a gente vai deixando, vai deixando, vai deixando de ser e nem percebe. Quando viu, babau, já não é mais. Mocidade é isso aí, sabia? Sabe nada: você roda na roda também, quer uma prova? Todo esse pessoal da preto e cabelo arrepiadinho sorri pra você porque você é igual a eles. Se pintar uma festa, te dão um toque, mesmo sem te conhecer. Isso é rodar na roda, meu bem.Pra mim, não. Nenhum sorriso. Cumplicidade zero. Eu não sou igual a eles, eles sabem disso. Dama da noite, eles falam, eu sei. Quando não falam coisa mais escrota, porque dama da noite é até bonito, eu acho. Aquela flor de cheiro enjoativo que só cheira de noite, sabe qual? Sabe porra: você nasceu dentro de um apartamento, vendo tevê.Não sabe nada. fora essas coisas de vídeo, performance, high-tech, punk, dark. computador, heavy-metal e o caralho. Sabia que eu até vezenquando tenho mais pena de você e desses arrepiadinhos de preto do que de mim e daqueles meus amigos fodidos? A gente teve uma hora que parecia que ia dar certo. Ia dar, ia dar. sabe quando vai dar? Pra vocês, nem isso. A gente teve a ilusão, mas vocês chegaram depois que mataram a ilusão da gente.Tava tudo morto quando você nasceu, boy, e eu já era puta velha. Então eu tenho pena. Acho que sou melhor, sei porque peguei a coisa viva. Tá bom, desculpa, gatinho. Melhor, melhor não. Eu tive mais sorte, foi isso? Eu cheguei antes. E até me pergunto se não é sorte também estar do lado de fora dessa roda besta que roda sem fim, sem mim. No fundo, tenho nojo dela - você?Você não viu nada, você nem viu o amor. Que idade você tem, vinte? Tem cara de doze. Já nasceu de camisinha em punho, morrendo de medo de pegar Aids. Vírus que mata. neguinho, vírus do amor. Deu a bundinha, comeu cuzinho. Pronto: paranóia total. Semana seguinte, nasce uma espinha na cara e salve-se quem puder: baixou Emílio Ribas. Caganeira, tosse seca, gânglios generalizados.Õ boy, que grande merda fizeram com a tua cabecinha, hein? Você nem beija na boca sem morrer de cagaço. Transmite pela saliva, você leu em algum lugar. Você nem passa a mão em peito molhado sem ficar de cu na mão. Transmite pelo suor, você leu em algum lugar. Supondo que você lê, claro. Conta pra tia: você lê, meu bem? Nada, você não lê nada. Você vê pela tevê, eu sei. Mas na tevê também dá, o tempo todo: amor mata amor mata amor mata. Pega até de ficar do lado, beber do mesmo copo. Já pensou se eu tivesse? Eu, que já dei pra meia cidade e ainda por cima adoro veado.Eu sou a dama da noite que vai te contaminar com seu perfume venenoso e mortal. Eu sou a flor carnívora e noturna que vai te entontecer e te arrastar para o fundo de seu jardim pestilento. Eu sou a dama maldita que, sem nenhuma piedade, vai te poluir com todos os líquidos, contaminar teu sangue com todos os vírus. Cuidado comigo: eu sou a dama que mata, boy. Já chupou buceta de mulher? Claro que não, eu sei: pode matar. Nem caralho de homem: pode matar. Já sentiu aquele cheiro molhado que as pessoas têm nas virilhas quando tiram a roupa? Está escrito na sua cara, tudo que você não viu nem fez está escrito nessa sua cara que já nasceu de máscara pregada. Você já nasceu proibido de tocar no corpo do outro. Punheta pode, eu sei, mas essa sede de outro corpo é que nos deixa loucos e vai matando a gente aos pouquinhos. Você não conhece esse gosto que é o gosto que faz com que a gente fique fora da roda que roda e roda e que se foda rodando sem parar, porque o rodar dela é o rodar de quem consegue fingir que não viu o que viu. O boy, esse mundo sujo todo pesando em cima de você, muito mais do que de mim e eu ainda nem comecei a falar na morte...Já viu gente morta, boy? É feio, boy. A morte é muito feia, muito suja, muito triste. Queria eu tanto ser assim delicada e poderosa, para te conceder a vida eterna. Queria ser uma dama nobre e rica para te encerrar na torre do meu castelo e poupar você desse encontro inevitável com a morte. Cara a cara com ela, você já esteve? Eu, sim, tantas vezes. Eu sou curtida, meu bem. A gente lê na sua cara que nunca. Esse furinho de veado no queixo, esse olhinho verde me olhando assim que nem eu fosse a Isabella Rossellini levando porrada e gostando e pedindo eat me eat me, escrota e deslumbrante. Essa tontura que você está sentindo não é porre, não. É vertigem do pecado, meu bem, tontura do veneno. O que que você vai contar amanhã na escola, hein? Sim, porque vocé ainda deve ir à escola, de lancheira e tudo. Já sei: conheci uma mina meio coroa, porra-louca demais. Cretino, cretino, pobre anjo cretino do fim de todas as coisas. Esse caralhinho gostoso aí, escondido no meio das asas, é só isso que você tem por enquanto. Um caralhinho gostoso, sem marca nenhuma. Todo rosadinho. E burro. Porque nem brochar você deve ter brochado ainda. Acorda de pau duro, uma tábua, tem tesão por tudo, até por fechadura. Quantas por dia? Muito bem, parabéns: você tá na idade. Mas anota aí pro teu futuro cair na real: essa sede, ninguém mata. Sexo é na cabeça: você não consegue nunca. Sexo é só na imaginação. Você goza com aquilo que imagina que te dá o gozo, não com uma pessoa real, entendeu? Você goza sempre com o que tá na sua cabeça, não com quem tá na cama. Sexo é mentira, sexo é loucura, sexo é sozinho, boy.Eu, cansei. Já não estou mais na idade. Quantos? Ah, você não vai acreditar, esquece. O que importa é que você entra por um ouvido meu e sai pelo outro, sabia? Você não fica. você não marca. Eu sei que fico em você, eu sei que marco você. Marco fundo. Eu sei que, daqui a um tempo, quando você estiver rodando na roda, vai lembrar que, uma noite. sentou ao lado de uma mina louca que te disse coisas, que te falou no sexo, na solidão, na morte. Feia, tão feia a morte, boy. A pessoa fica meio verde, sabe? Da cor quase assim desse molho de espinafre frio. Mais clarinho um pouco, mas isso nem é o pior. Tem uma coisa que já não está mais ali, isso é o mais triste. Você olha, olha e olha e o corpo fica assim que nem uma cadeira.Uma mesa, um cinzeiro, um prato vazio. Uma coisa sem nada dentro. Que nem casca de amendoim jogada na areia, é assim que a gente fica quando morre, viu, boy? E você, já descobriu que um dia também vai morrer?Dou, claro. Ficou nervosinho, quer cigarro? Mas nem fumar você fuma, o quê? Compreendo, compreendo sim, eu compreendo sempre, sou uma mulher muito compreensiva. Sou tão maravilhosamente compreensiva e tudo que, se levar você pra minha cama agora e amanhã de manhã você tiver me roubado toda a grana, não pense que vou achar você um filho da puta. Não é o máximo da compreensão? Eu vou achar que você tá na sua, um garotinho roubando uma mulher meio pirada, meio coroa, que mexeu com sua cabecinha de anjo cretino desse nojento fim de todas as coisas. Tá tudo bem, é assim que as coisas são: ca-pi-ta-lis-tas, em letras góticas de neon. Mulher pirada e meio coroa que nem eu tem mais é que ser roubada por um garotinho ïmbecil e tesudinho como você. Só pra deixar de ser burra caindo outra vez nessa armadilha de sexo.Fissura, estou ficando tonta. Essa roda girando girando sem parar. Olha bem: quem roda nela? As mocinhas que querem casar, os mocinhos a fim de grana pra comprar um carro, os executivozinhos a fim de poder e dólares, os casais de saco cheio um do outro, mas segurando umas. Estar fora da roda é não segurar nenhuma, não querer nada. Feito eu: não seguro picas, não quero ninguém. Nem você. Quero não, boy. Se eu quiser, posso ter. Afinal, trata-se apenas de um cheque a menos no talão, mais barato que um par de sapatos. Mas eu quero mais é aquilo que não posso comprar. Nem é você que eu espero, já te falei. Aquele um vai entrar um dia talvez por essa mesma porta, sem avisar. Diferente dessa gente toda vestida de preto, com cabelo arrepiadinho. Se quiser eu piro, e imagino ele de capa de gabardine, chapéu molhado, barba de dois dias, cigarro no canto da boca, bem noir. Mas isso é filme, ele não. Ele é de um jeito que ainda não sei, porque nem vi. Vai olhar direto para mim. Ele vai sentar na minha mesa, me olhar no olho, pegar na minha mão, encostar seu joelho quente na minha coxa fria e dizer: vem comigo. É por ele que eu venho aqui, boy, quase toda noite. Não por você, por outros como você. Pra ele, me guardo. Ria de mim, mas estou aqui parada, bêbada, pateta e ridícula, só porque no meio desse lixo todo procuro o verdadeiro amor. Cuidado, comigo: um dia encontro.Só por ele, por esse que ainda não veio, te deixo essa grana agora, precisa troco não, pego a minha bolsa e dou o fora já. Está quase amanhecendo, boy. As damas da noite recolhem seu perfume com a luz do dia. Na sombra, sozinhas. envenenam a si próprias com loucas fantasias. Divida essa sua juventude estúpida com a gatinha ali do lado, meu bem. Eu vou embora sozinha. Eu tenho um sonho, eu tenho um destino, e se bater o carro e arrebentar a cara toda saindo daqui, continua tudo certo. Fora da roda, montada na minha loucura. Parada pateta, ridícula porra-louca solitária venenosa. Pós-tudo, sabe como? Darkérrima, modernésima, puro simulacro.Dá minha jaqueta, boy, que faz um puta frio lá fora e quando chega essa hora da noite eu me desencanto. Viro outra vez aquilo que sou todo dia, fechada sozinha perdida no meu quarto, longe da roda e de tudo: uma criança assustada. (Extraído de Os Dragões não conhecem o paraíso. Ed. ?, Não lembro o nome. fico devendo, tá?!)
A imagem acima é do curta-metragem de mesmo nome do conto A Dama da Noite, do qual foi adaptado. Também vale a pena.
Dama da Noite é um filme que comemora a convivência das diferenças. Sexo, Solidão, AIDS, Discriminação. Grandes questões que na voz da Dama da Noite - uma personagem pansexual que mistura em doses desequilibradas consciência política com extravagância poética - adquirem ineditismo diante uma platéia desvairada e sedenta por muita alegria e alguma ideologia.
Diretor Sandra Werneck
Elenco
Ana Beatriz Nogueira, David Pinheiro, Kate Lira, Maria Alves
Ano 1987, Duração 21 min.

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18 de mai. de 2008

Espaço-Conto: O Alienista

Leia/a/seguir/um/trecho/do/conto/O/Alienista,/de/Machado/de/Assis,/que/não/é/de/um/filósofo,/mas/apresenta/aspectos/filosóficos/e,/de/mais/a/mais,/é/um/texto/estupendamente/belo./O/texto/completo/você/pode/pegar/no/endereço http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/PesquisaObraForm.do ou numa bilbioteca, livro que não é raro, felizmente!!! Boa leitura!
O ALIENISTA, de Machado de Assis

CAPÍTULO I - DE COMO ITAGUAÍ GANHOU UMA CASA DE ORATES

As crônicas da vila de Itaguaí dizem que em tempos remotos vivera ali um certo médico, o Dr.
Simão Bacamarte, filho da nobreza da terra e o maior dos médicos do Brasil, de Portugal e das Espanhas.
Estudara em Coimbra e Pádua. Aos trinta e quatro anos regressou ao Brasil, não podendo el-rei alcançar dele
que ficasse em Coimbra, regendo a universidade, ou em Lisboa, expedindo os negócios da monarquia.
—A ciência, disse ele a Sua Majestade, é o meu emprego único; Itaguaí é o meu universo.
Dito isso, meteu-se em Itaguaí, e entregou-se de corpo e alma ao estudo da ciência, alternando as
curas com as leituras, e demonstrando os teoremas com cataplasmas. Aos quarenta anos casou com D.
Evarista da Costa e Mascarenhas, senhora de vinte e cinco anos, viúva de um juiz de fora, e não bonita nem
simpática. Um dos tios dele, caçador de pacas perante o Eterno, e não menos franco, admirou-se de
semelhante escolha e disse-lho. Simão Bacamarte explicou-lhe que D. Evarista reunia condições fisiológicas
e anatômicas de primeira ordem, digeria com facilidade, dormia regularmente, tinha bom pulso, e excelente
vista; estava assim apta para dar-lhe filhos robustos, sãos e inteligentes. Se além dessas prendas,—únicas
dignas da preocupação de um sábio, D. Evarista era mal composta de feições, longe de lastimá-lo,
agradecia-o a Deus, porquanto não corria o risco de preterir os interesses da ciência na contemplação
exclusiva, miúda e vulgar da consorte.
D. Evarista mentiu às esperanças do Dr. Bacamarte, não lhe deu filhos robustos nem mofinos. A
índole natural da ciência é a longanimidade; o nosso médico esperou três anos, depois quatro, depois cinco.
Ao cabo desse tempo fez um estudo profundo da matéria, releu todos os escritores árabes e outros, que
trouxera para Itaguaí, enviou consultas às universidades italianas e alemãs, e acabou por aconselhar à mulher
um regímen alimentício especial. A ilustre dama, nutrida exclusivamente com a bela carne de porco de
Itaguaí, não atendeu às admoestações do esposo; e à sua resistência,—explicável, mas inqualificável,—
devemos a total extinção da dinastia dos Bacamartes.
Mas a ciência tem o inefável dom de curar todas as mágoas; o nosso médico mergulhou
inteiramente no estudo e na prática da medicina. Foi então que um dos recantos desta lhe chamou
especialmente a atenção,—o recanto psíquico, o exame de patologia cerebral. Não havia na colônia, e ainda
no reino, uma só autoridade em semelhante matéria, mal explorada, ou quase inexplorada. Simão Bacamarte
compreendeu que a ciência lusitana, e particularmente a brasileira, podia cobrir-se de "louros imarcescíveis",
— expressão usada por ele mesmo, mas em um arroubo de intimidade doméstica; exteriormente era modesto,
segundo convém aos sabedores.
—A saúde da alma, bradou ele, é a ocupação mais digna do médico.
—Do verdadeiro médico, emendou Crispim Soares, boticário da vila, e um dos seus amigos e
comensais.
(...)

Introdução à Ética

Platão se utiliza do personagem Sócrates (Σωκράτης [Sōkrátēs], (470 a.C.399 a.C.) para desmontar discursos; o alvo dele são aquelas pessoas que pensam saber, quando na verdade nada sabem. Ele que nada sabe, nem julga saber, parece ser mais sábio. Platão está nos ensinando que os preconceitos são cristalizados em nossas cabeças de tal forma que pensamos que são verdadeiros, mas que sobre tal e qual questão, não sabemos, na verdade, nada. Se você fosse interrogado por Sócrates, também ficaria furioso com ele como ficavam aqueles de seu tempo? Pois é, foram dois furiosos que o conderam e que, ao final, o processo levou Sócrates a tomar cicuta, um veneno que o matou. Era a pena de morte. Que pena!!! Pena maior será se você não ler o que segue abaixo, um trecho da obra Apologia de Sócrates. Apologia quer dizer 'defesa', mas com uma certa diferença. Perguntem-me em sala de aula, que eu explico.



"Ouvida a resposta do oráculo, refleti deste modo: 'O que esconde o enigma? (...) Que quer dizer o deus quando quando diz que sou o mais sábio dos homens? Certamente não mente, ele que não pode mentir.' E por longo tempo permaneci neste incerteza, sem saber o que queria o deus dizer. Finalmente, contra a minha vontade pus-me a fazer pesquisas a esse respeito. Dirigi-me a um daqueles que têm fama de serem sábios, pensando que apenas assim poderia desmentir o oráculo e responder e responder ao vaticínio: 'Eis, este é mais sábio que eu e dissestes que era eu'. Mas enquanto estava examinando a este - o nome não é preciso que eu vos diga, ó Atenienses; basta dizer que era um de nossos homens políticos, este com quem examinando e racionando justamente, fiz a experiência que estou para relatar-vos - e, segundo me pareceu, este bravo homem tinha o ar de sábio aos olhos de muitos outros e particularmente de si mesmo, mas que realmente não o fosse. Tentei então fazâ-lo compreeender que acreditava ser sábio, mas que não o era. E então, a partir daquele momento, não apenas passou a me odiar como muitos daqueles que estavam presentes. E, retirando-me, concluí comigo mesmo que era mais sábio que aquele homem, neste sentido, que nós ambos podíamos não saber nada de bom, nem de belo, mas aquele acreditava saber e não sabia eu contrariamente, como não sabia, também não acredita saber e pareceu-me que pelo menos, numa pequena coisa, fosse mais sábio que ele, isto é, porque não sei, nem mesmo creio sabê-lo. E então procurei um outro, entre aqueles que tinham fama de serem mais sábios que aqueles e aconteceu-me precisamente o mesmo e ainda este me votou ódio, bem como juitos outros"



(...)




PLATÃO. Apologia de Sócrates. Tradução de Márcio Pugliesi e Edson Bini. São Paulo: Editora: Hemus, 1981.




“Por toda parte eu vou persuadindo a todos, jovens e velhos, a não se preocuparem exclusivamente, e nem tão ardentemente, com o corpo e com as riquezas, como devem preocupar-se com a alma, para que ela seja quanto possível melhor, e vou dizendo que a virtude não nasce da riqueza, mas da virtude vêm, aos homens, as riquezas e todos os outros bens, tanto públicos como privados.”


PLATÃO. Apologia de Sócrates. Trad. de Maria Lacerda Moura. www.dominiopublico.gov.br. Acesso em 20 dez. 2007.

fonte das imagens: wikipédia
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17 de mai. de 2008

Aulas 2º Bimestre

Atividades para serem respondidas no caderno.

Perguntas sobre o filme exibido 'O Dia em que Dorival encarou a guarda' (o filme é um curta-metragem do sulista Jorge Furtado, o mesmo diretor de O Homem que Copiava), curta que trata do drama que é o ser humano não poder realizar seu desejo. No caso, o de Dorival era o de tomar banho. Será que ele não pensou se devia parar e ficar sem o banho mesmo? Seria isso que deveríamos fazer, recuar diante das dificuldades? Responda às questões abaixo:


1)Identifique o conflito do filme;
2)Foi ética a estratégia utilizada por Dorival ou ele deveria ter sido menos agressivo?;
3)Você gostou do filme? Por quê?;
4)Quem é o protagonista do filme? E o antagonista?; Por quê?
5)E na sua vida, quem é o protagonista? E o antagonista? Por quê?;
6)Faça essa mesma pergunta (Questão 5) a outras duas pessoas e relate para a sala.

7)Qual a concepção sobre 'lei' para os guardas e para Dorival?


Alguns comentários sobre o filme:

Brilhante. O discurso do poder desmistificado por Dorival remete a situações kafkianas que a realidade nos mostra cotidianamente. Tem a questão do negro oprimido na hierarquização desse poder. O negro marginalizado pelo sistema. Instigante.
José Edson dos Santos 27/11/2006

Parabéns. Fantastico. adorei. Show, bonito, real, vibrante, multifacetado, indignador, lindo... Um viva a capacidade criativa e de realização. Que o mundo se encha de pessoas cheias de propósitos em suas vidas. Não tenho conhecimento sobre as questões técnicas de produção e elaboração de filmes,isso não me envergonha, nem é importante para mim, nem para a maioria das pessoas as quais este filme deve atingir. O que interessa é a mensagem, a capacidade de despertar, de fazer pensar e refletir além, até mesmo, da proposta e da intenção os autores. PARABÉNS!!! Robson Pereira da Conceição 21/01/2007


Será que eu também sou um pau mandado??? Sou Coordenadora Pedagógica e sempre atendo "ocorrências" na escola. Lembrei-me dos meus alunos em minha sala de aula... VALEU
ANITA MARTINHO 03/06/2007


Um banho contra a barbárie e ignorância humana...Salve Dorival!
FABRICIO NASCIMENTO FERREIRA 19/08/2007


Nossa, vi este curta no meu 1º período da faculdade e achei fascinante. Tive a oportunidade de revê-lo hoje e o achei ainda melhor!!!
Luciana S. Andrade 07/09/2007