22 de mai. de 2008

Resumo de aulas (1)

Tentei no primeiro bimestre estabelecer uma atmosfera para entendermos como a questão da linguagem se coloca frente as outras que viríamos a estudar como a política, ética etc. Assim, defendemos a tese de que apenas com sujeitos de linguagem – e aqui há de ser dito, sujeitos de uma linguagem bem desenvolvida, i.e., sujeitos que lidam satisfatoriamente com as sutilezas da linguagem – poderemos pensar em conduta ética. Pois sem um sujeito que possa escolher ou visualizar se deseja ir para a esquerda ou para a direita por conta própria não há ética.
Por isso, tratamos de ressaltar a importância de tal tema a partir de seu aparecimento no Antigo Testamento hebraico e na Odisséia, de Homero.

No Antigo Testamento lembramos a aquisição de linguagem por meio da desobediência, pois é testando os limites de uma lei que se adquire sua importância, mas também a necessidade de atualizá-la. Com isso, começa a história da humanidade, segundo a avaliação de Eric Fromm em O Espírito da Liberdade. A seguir, o Antigo Testamento dará provas de ser um texto libertador, na medida em que na fase pós-Dilúvio Deus estabelecerá com a humanidade (representada por Abraão) uma nova aliança. Compartilha com ela suas decisões, já que desde a desobediência originária do Homem ele ‘se tornou como um de nós, sabendo do bem e do mal” (Gêneses I). Assim, Abraão lembrará Deus que Ele não poderá cometer uma injustiça queimando uma cidade onde há justos. Deus cofia sua barba perfeita e concorda com Abraão. Eis a obra maior de Deus, o Homem, que aprendeu a utilizar-se da linguagem para decidir que rumos tomar, por meio de critérios que considera certos.

Na Odisséia, Prometeu rouba o fogo dos deuses e o entrega à humanidade, que a partir de então, como na desobediência de Adão, passa a saber do bem e do mal. A linguagem na Odisséia ganha requintes notáveis. Há várias passagens em que a assembléia, modo comum de decisões entre os gregos, é um recurso à mão. Quando os deuses pensam ter detectado uma injustiça, reúnem-se para decidir o que fazer. “Deliberemos juntos acerca de Odisseu encontrar a rota de volta para casa. A vontade de Posidon não pode sobrepor-se à de todos os deuses (...)”. Eis o exemplo de aplicabilidade da democracia na cultura grega. Assim, pensamos ter ressaltado como a escuta do discurso do Outro se fazia importante para a criação de um sistema político-cultural que engendraria grandes outras criações como seria o surgimento da própria filosofia, que imprescinde do diálogo como método de fabricação e desvelamento da verdade.

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