27 de mai. de 2008

Santo Agostinho



A Necessidade da Compaixão






Arrebatavam-me os espectáculos teatrais, cheios de imagens das minhas misérias e de alimento próprio para o fogo das minhas paixões. Mas por que quer o homem condoer-se, quando presencia cenas dolorosas e trágicas, se de modo algum deseja suportá-las? Todavia, o espectador anseia por sentir esse sofrimento que, afinal, para ele constitui um prazer. Que é isto senão rematada loucura? Com efeito, tanto mais cada um se comove com tais cenas quanto menos curado se acha de tais afectos (deletérios). Mas ao sofrimento próprio chamamos ordinariamente desgraça, e à comparticipação das dores alheias, compaixão. Que compaixão é essa em assuntos fictícios e cénicos, se não induz o espectador a prestar auxílio, mas somente o convida à angústia e a comprazer o dramaturgo na proporção da dor que experimenta? E se aquelas tragédias humanas, antigas ou fingidas, se representam de modo a não excitarem a compaixão, e espectador retira-se enfastiado e criticando. Pelo contrário, se se comove, permanece atento e chora de satisfação. Amamos, portanto, as lágrimas e as dores. Mas todo o homem deseja o gozo. Ora, ainda que a ninguém apraz ser desgraçado, apraz-nos contudo a ser compadecidos. Não gostaremos nós dessas emoções dolorosas pelo único motivo de que a compaixão é companheira inseparável da dor? A amizade é a fonte destas simpatias.
Santo Agostinho. In Confissões. Col. Os Pensadores. São Paulo: ed. Abril.
Uma boa opção para quem quer (ou tem que) comprar livro ou filme mais baratos é procurar sebos. Há alguns que têm site, como o que fica na Liberdade: www.seboliberdade.com.br

6 comentários:

Carlos Henrique disse...

Ótimo texto, confesso que não conhecia nada deste filósofo.
O ser humano realmente se envolve por essa angústia, é quase um "masoquismo emocional". Acredito que a curiosidade do ser em viver tais situações também é notória nesse caso.

Mais uma vez, parabéns pelo blog e pela iniciativa em utilizar tais recursos para um contato mais direto com os alunos realmente interessados.Uma vez que quem não quer visitar o blog não visita.

Professor, gostaria de linkar o seu blog no meu, será que também poderia linkar o meu?
Se trata de um blog em parceiria com meu amigo Leandro Gaia onde escrevemos textos apresentando críticas sobre variados assuntos.
Se tiver um tempo dê uma olhada:

http://criticasmorgan.blogspot.com/

Grande Abraço!
Carlo Henrique

Arkhel disse...

Idem...Também não conhecia Santo Agostinho...

porém faz muito sentido tal texto, para ser sincero essa aproximação do ser humano com a adoração ao sofrimento é uma das questões que mais me intriga e me põe em estado de profunda reflexão, afinall que sentido há em um ser que "busca" naturalmente a felicidade paralelamente busca o sentimento oposto digno de compaixão...
Paradoxo ou apenas uma contradição?

Filosofia na Escola Pública disse...

Questões pesadas que você coloca, Ariel! Sugiro que você estude esse tema e que apresente em turma, que tal?! Hein, hein?!!
É abrir o 'blog' e ver comentários! Que bom!!!!
Abraços 'blogados',
daniel marcolino

Nat disse...

"Que compaixão é essa em assuntos fictícios e cénicos, se não induz o espectador a prestar auxílio, mas somente o convida à angústia e a comprazer o dramaturgo na proporção da dor que experimenta"

Haha adorei!

Professor, olha meu comentário no post sobre o projeto cinema.

Arkhel disse...

Vou pensar no seu caso Sôr =D

Filosofia na Escola Pública disse...

Já deu tempo docê pensar no caso, sôr Ariel. Segunda me digue sua respota sobre apresentar o tar do seminário, vice?
daniel